Por Reinaldo Canto*
O polêmico dramaturgo Nelson Rodrigues foi quem cunhou a expressão que emoldura o início desse artigo. No discurso rodriguiano, óbvio e ululante fazem referência às verdades escancaradas. Aquelas do tipo que não deixam espaço para dúvidas. Do mesmo modo, Mino Carta, diretor e editor destaCartaCapital costuma sempre mencionar o conhecimento “até do mundo mineral” para as questões já amplamente reveladas.
Todos os anos, neste começo de junho, são realizadas inúmeras ações e eventos para comemorar o dia do meio ambiente (05/06) ou a semana do meio ambiente. Governos de todas as esferas correm para inaugurar praças, divulgar algum programa ambiental e colocar estudantes de escolas públicas para plantar algumas árvores. Empresas apresentam números vinculados à redução de emissões de gases de efeito estufa e impactos ambientais de suas atividades, informam sobre a economia cada vez maior no uso da água e da energia e colocam os filhos de seus colaboradores para... plantar algumas árvores. As pessoas e seus familiares e amigos também aproveitam para celebrar a data participando de atividades públicas, visitar algum parque e...plantar algumas árvores.
Sei que usei de ironia para comentar essas atitudes, mas não as considero negativas, muito pelo contrário. Elas devem ser divulgadas e incentivadas. O que questiono, e peço ao leitor para fazer o mesmo, é se em muitos desses casos tais ações não possuem um caráter apenas pontual.
Mais do que digna de comemoração, a data deveria servir, exatamente, para uma profunda reflexão acompanhada de importantes e óbvias perguntas que, infelizmente, não recebem da mesma maneira respostas ululantes. Daí em citar que, a obviedade gritante dos problemas ambientais não recebe o seu correspondente e ululante caminho de soluções permanentes.
Se não vejamos: em muitas regiões do país o problema da falta de água preocupa a todos, causando inclusive a paralisação de processos produtivos de indústrias; o uso excessivo de agrotóxicos contamina pessoas e o solo, o que ameaça a nossa produção de alimentos no longo prazo; a gestão de lixo nas cidades é cada vez mais cara e o seu descarte seja em aterros sanitários ou pior em lixões apresenta um cenário de colapso; as nossas florestas estão sendo destruí das, muitas vezes para transformar árvores em carvão ou para pastos com meia dúzia de cabeças de gado, em áreas antes ocupadas por nascentes de rios e uma rica biodiversidade, o que compromete o nosso futuro.
Essas e outras obviedades ambientais são de “conhecimento do mundo mineral”, mas mais uma vez, no quesito ululante permanecem no vazio da letargia e da procrastinação. Mesmo com tantas evidências parece faltar algo para que se entenda de uma vez por todas a necessidade de mudar um sem número de atitudes, em todos os níveis, que deixadas ao bel prazer, fatalmente vão trazer ainda maiores dissabores e problemas mais crônicos com crescente dificuldade de solução.
Ao menos se começarmos a quebrar alguns paradigmas como a percepção de que os recursos naturais são infinitos e a natureza descartável, já será um progresso considerável. Parece que tudo aquilo que gentilmente nos é entregue pelos chamados serviços ambientais, tais como, as propiciadas pelas florestas e áreas verdes por meio da regulação climática, conservação e purificação das fontes de água, dos regimes de chuva, da qualidade do ar e dos fundamentais insumos para nossa sobrevivência (frutas, madeira, insumos medicinais e essências, por exemplo), não recebe o devido valor.
Na mesma linha de raciocínio, com o surgimento das cidades, o meio natural muitas vezes foi e ainda é visto como atraso. Claro que existe uma razão para isso. Uma rua sem asfalto, um matagal perto de casa e a proliferação de insetos na maioria dos casos pode estar associados a uma condição social desfavorável. Por outro lado, usar a bicicleta ao invés de um carro, resistir aos apelos de consumo dos últimos lançamentos tecnológicos ou mesmo reutilizar produtos e embalagens ainda é visto como sinal de pobreza ou de uma questão puramente de pãodurismo. Se até mesmo andar a pé, uma das mais básicas atividades físicas é, às vezes, visto como coisa de pobre, o que esperar do futuro?
Se nesses dias de comemoração você havia decidido plantar uma árvore, não deixe a pá de lado por causa dessas inconclusivas linhas. Uma árvore é sim relevante e, certamente, trará seus benefícios. Mas tão importante quanto, é exercitar nosso poder de refletir mais profundamente sobre o significado do meio ambiente. Quem sabe um olhar mais terno, generoso e cúmplice para as coisas da natureza seja capaz de colocar o óbvio e o ululante lado a lado em prol de um mundo mais justo, equilibrado e sustentável para todos nós.
* Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/
Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, da Rádio Trianon, do Portal Mercado Ético, colaborador da Envolverde, comentarista da Rede Vida e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
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