Sites de venda, troca e aluguel de usados oferecem uma bela alternativa ao consumismo compulsivo
Por Reinaldo Canto*
Uma sociedade consumista baseada na compra irracional e por impulso ainda permanece firme e forte sem apresentar mudanças relevantes num horizonte de curto prazo. A publicidade segue firme vendendo produtos e serviços baseados naquilo que, efetivamente, eles não oferecem: alegria, amor e emoções, ou seja, o alcance da felicidade puramente pela via da aquisição de bens materiais.
Quantas vezes não compramos algo baseado nessas qualificações maravilhosas e realizadoras, mas passado um tempo, em geral bastante curto, descobrimos estupefatos que eles nada mais eram do que objetos inanimados e desprovidos dessa capacidade de realizar sonhos e desejos. Quando úteis, as premissas iniciais apesar de não se concretizarem, serão capazes de justificar a aquisição desses produtos para situações mais corriqueiras e menos fantasiosas. Em caso contrário, quando as emoções “vendidas” pelo anúncio não se comprovarem, restará aquele vazio depressivo e, muitas vezes, um triste e desnecessário desfalque na conta do mês.
Mas como dizia a minha e as avós de muita gente: “tudo na vida tem solução, menos a morte!”. Pois eis que se consolida no Brasil, uma maneira de, ao menos, remediar aquela compra mal feita. A popularização de sites que vendem usados, como o Mercado Livre, já é uma realidade. Agora o que começa a fazer parte da realidade brasileira é a troca e em menor medida, até mesmo o aluguel de produtos e serviços.
Recentemente, entraram em operação, entre outros, os sites DescolaAí e BuscaLá. Assim como o Mercado Livre, eles também anunciam a venda de usados, mas têm como foco principal o modelo de negócios conhecido como compartilhamento de bens. Exatamente aquele baseado na troca e aluguel.
No caso da locação de produtos, é claro que não estamos fazendo referência ao aluguel de veículos ou de uma casa na praia, e sim de situações bem menos usuais como, por exemplo, o de uma furadeira. Excelente para o uso durante alguns minutos, depois largada num canto para tomar pó e se degradar muitas vezes por anos.
Nesse sentido, o compartilhamento de bens pode se tornar um grande aliado para o desenvolvimento sustentável em nosso país. Afinal, a ideia de utilizar durante um período, ao invés de adquirir determinados produtos, reduz o impacto ambiental da produção ao mesmo tempo em que mantêm a economia aquecida.
Sem dúvida que será preciso vencer enormes barreiras culturais baseadas na posse, mas ao menos, as perspectivas são bastante positivas. Nos Estados Unidos e na Europa essa prática possui exemplos de segmentos específicos como o de roupas e brinquedos infantis. São casos de sucesso já comprovado e que rendem a esses sites receitas contadas aos milhões de dólares e euros.
Marcello Simonsen, idealizador do Buscalá, ficava assustado com a enorme geração de lixo das famílias e da sua própria. Além de fazer mudanças no seu próprio cotidiano como a redução no uso de embalagens, reciclagem e doação de bens com pouco ou nenhum uso, pensou que ali poderia estar a possibilidade de um novo negócio. Primeiro Marcello pensou em abrir uma usina de lixo para reciclagem. Desistiu da ideia, mas manteve o foco e criou o BuscaLá ao conhecer algumas experiências internacionais exitosas.
Em funcionamento há menos de um ano (junho de 2011), o BuscaLá, segundo seu criador, espera consolidar o site e a marca. Para conseguir isso, nos parece que o caminho não será fácil, ainda mais se como diz Marcelo o objetivo é conseguir que o aluguel de produtos e serviços assuma um lugar de grande destaque no faturamento do site.
A busca por parcerias com negócios tradicionais e consolidados parece oferecer boas chances para chegar aos resultados almejados pelos sócios do BuscaLá. “Estamos começando agora a trabalhar com loja de usados e o site irá funcionar como um e-commerce externo dando maior visibilidade e apoio a esses negócios”, explica Marcello.
Ainda temos um longo caminho para incutir na mentalidade do brasileiro que mais do que POSSUIR melhor e ideal para todos é USUFRUIR efetivamente dos benefícios oferecidos pelo produto. Sem dúvida, será melhor para o bolso da gente e para o futuro do planeta.
Muita coisa precisa mudar, mas felizmente, já há quem enxergue nesse mundo boas possibilidades de transformação rumo ao desenvolvimento sustentável.
Que venham mais negócios assim!
Endereços dos sites citados:
http://www.buscala.com.br/
http://www.descolaai.com/
http://www.mercadolivre.com.br/
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/as-boas-perspectivas-de-uma-economia-criativa-e-sustentavel/?autor=599
Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
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18 fevereiro 2012
16 fevereiro 2012
Divulgue também a campanha em apoio a Lúcio Flávio Pinto
Blogueiros, jornalistas e interessados em colaborar com a produção de conteúdo sobre Lúcio Flávio Pinto para esse espaço podem escrever para somostodoslucioflaviopinto@gmail.com.
Com esse espírito colaborativo, a ideia é criar uma rede de produção de textos de divulgação sobre a perseguição ao jornalista e os manifestos produzidos em favor dele pela sociedade civil. Também é possível contribuir por meio da sugestão de links com notícias sobre o caso e a divulgação das formas de apoiá-lo.
E lembre-se: são muito importantes nesse momento as doações e iniciativas destinadas a angariar fundos para o pagamento da indenização à família do empresário Cecílio do Rego Almeida, responsável por um grave esquema de apropriação ilegal de terras públicas e “ofendido moralmente” por ser chamado de “pirata fundiário”
Os dados para o depósito e outras formas de atuação estão disponíveis na seção Participe também.
Veja mais informações sobre o caso em Dizem por aí.
Com esse espírito colaborativo, a ideia é criar uma rede de produção de textos de divulgação sobre a perseguição ao jornalista e os manifestos produzidos em favor dele pela sociedade civil. Também é possível contribuir por meio da sugestão de links com notícias sobre o caso e a divulgação das formas de apoiá-lo.
E lembre-se: são muito importantes nesse momento as doações e iniciativas destinadas a angariar fundos para o pagamento da indenização à família do empresário Cecílio do Rego Almeida, responsável por um grave esquema de apropriação ilegal de terras públicas e “ofendido moralmente” por ser chamado de “pirata fundiário”
Os dados para o depósito e outras formas de atuação estão disponíveis na seção Participe também.
Veja mais informações sobre o caso em Dizem por aí.
09 fevereiro 2012
A CIDADE, AS PESSOAS E AS CHUVAS DE VERÃO
Por Reinaldo Canto*
Foi um mês de janeiro chuvoso. E como choveu! Os dias totalmente ensolarados puderam ser contados nos dedos em boa parte do território nacional. Como tem sido de praxe, as notícias sobre enchentes e deslizamentos foram acompanhadas das já tradicionais alegações mais do que batidas:
- As águas do rio invadiram as casas e as pistas da avenida!
- A forte chuva foi à responsável pelo desabamento do morro e pelo soterramento das casas!
- A chuva torrencial foi à causadora da enchente que inundou as casas do bairro!
São bordões a que já nos acostumamos e seu conteúdo, de certa maneira, contribui decisivamente para perpetuar essas conhecidas variações de tragédias de verão com perdas de vidas humanas e prejuízos materiais.
As águas do rio não invadem casas e pistas, elas apenas ocupam, salvo exceções, áreas naturais de transbordo. O problema aí é que as casas, construções, avenidas e estradas é que estão a se utilizar de espaços indevidos.
O mesmo vale para morros e montanhas desprovidos de suas vegetações naturais. Nesse caso a chuva é injustamente responsabilizada por tragédias. É apenas mais um caso de ocupação irregular.
O processo acelerado de impermeabilização das cidades é um dos fatores que mais contribui para as enchentes. A chuva cai e a água não sendo capaz de escoar, por conseqüência, vai se acumulando sobre superfícies asfaltadas e concretadas provocando as cheias.
Ao insistir com as mesmas justificativas não enfrentamos verdadeiramente esses problemas. Mesmo que se possa constatar nos últimos anos, o aumento progressivo no volume de chuvas, bem como, períodos de estiagem maiores resultantes do aquecimento global, também é verdade que épocas de chuva e seca são conhecidas e previsíveis.
Nessas ocasiões, são constantemente mencionadas a incompetência, desvios e omissões de nossas autoridades. Obras prometidas que não foram feitas, desleixo na limpeza de rios e córregos, a não retirada de famílias vivendo em áreas de risco e até mesmo a atitude pouco civilizada das pessoas ao jogar lixo nas ruas e rios. Tudo isso é verdade e merece ser denunciado, mas também é preciso interagir de maneira mais amigável com os fenômenos naturais.
Com a acelerada urbanização nas sociedades modernas assistimos a um processo de distanciamento do que poderíamos chamar de: “leis da natureza”. Nada mais, nada menos do que respeitar, entender e conviver com dinâmicas e ciclos do planeta.
Muitas vezes, ao ultrapassar certos limites, ocorrem reações ambientais que poderiam ser evitadas bastando para isso, apenas, a observação e o conhecimento. A força de reação da natureza não pode ser desprezada como vêm acontecendo de maneira progressiva. O poder da água, tanto como guardiã da vida na Terra, deve ser respeitado por isso, mas também deve ser entendida como capaz de tirar essas mesmas vidas. As nossas enchentes e o acidente de Fukushima, no Japão, são exemplares dessa força descomunal e destrutiva.
Temos o direito, mas também o dever de agir para garantir um ar bom para respirar, água pura para beber e alimentos saudáveis que colaborem com a nossa saúde. Para se alcançar esses objetivos, respeitar o meio ambiente é fundamental. Se no passado a meta era “vencer”, hoje é preciso buscar todos os caminhos para viver em harmonia com a natureza e dela extrair todos os benefícios resultantes dessa boa convivência.
As boas intenções
Recentemente, com as melhores intenções, não duvido disso, um grande banco anunciava: “O que a enchente destruiu sozinha, a gente pode reconstruir juntos” e colocou à disposição um número de conta para ajudar as pessoas e famílias prejudicadas pelas chuvas.
Essa é uma típica situação de desconhecimento das leis naturais, conforme descrevi acima. Em primeiro lugar a enchente não destruiu sozinha, o ser humano deu a sua contribuição determinante ao construir em locais inadequados, não permitindo a vazão das águas. Depois, ao falar em reconstruir, que significa fazer da mesma maneira, do mesmo jeito e no mesmo lugar serão cometidos os mesmos erros que levaram a tragédia.
Nesse caso, vale à pena rever valores e estratégias para obter os melhores resultados para o banco e para as pessoas.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-cidade-as-pessoas-e-as-chuvas-de-verao/?autor=599
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Foi um mês de janeiro chuvoso. E como choveu! Os dias totalmente ensolarados puderam ser contados nos dedos em boa parte do território nacional. Como tem sido de praxe, as notícias sobre enchentes e deslizamentos foram acompanhadas das já tradicionais alegações mais do que batidas:
- As águas do rio invadiram as casas e as pistas da avenida!
- A forte chuva foi à responsável pelo desabamento do morro e pelo soterramento das casas!
- A chuva torrencial foi à causadora da enchente que inundou as casas do bairro!
São bordões a que já nos acostumamos e seu conteúdo, de certa maneira, contribui decisivamente para perpetuar essas conhecidas variações de tragédias de verão com perdas de vidas humanas e prejuízos materiais.
As águas do rio não invadem casas e pistas, elas apenas ocupam, salvo exceções, áreas naturais de transbordo. O problema aí é que as casas, construções, avenidas e estradas é que estão a se utilizar de espaços indevidos.
O mesmo vale para morros e montanhas desprovidos de suas vegetações naturais. Nesse caso a chuva é injustamente responsabilizada por tragédias. É apenas mais um caso de ocupação irregular.
O processo acelerado de impermeabilização das cidades é um dos fatores que mais contribui para as enchentes. A chuva cai e a água não sendo capaz de escoar, por conseqüência, vai se acumulando sobre superfícies asfaltadas e concretadas provocando as cheias.
Ao insistir com as mesmas justificativas não enfrentamos verdadeiramente esses problemas. Mesmo que se possa constatar nos últimos anos, o aumento progressivo no volume de chuvas, bem como, períodos de estiagem maiores resultantes do aquecimento global, também é verdade que épocas de chuva e seca são conhecidas e previsíveis.
Nessas ocasiões, são constantemente mencionadas a incompetência, desvios e omissões de nossas autoridades. Obras prometidas que não foram feitas, desleixo na limpeza de rios e córregos, a não retirada de famílias vivendo em áreas de risco e até mesmo a atitude pouco civilizada das pessoas ao jogar lixo nas ruas e rios. Tudo isso é verdade e merece ser denunciado, mas também é preciso interagir de maneira mais amigável com os fenômenos naturais.
Com a acelerada urbanização nas sociedades modernas assistimos a um processo de distanciamento do que poderíamos chamar de: “leis da natureza”. Nada mais, nada menos do que respeitar, entender e conviver com dinâmicas e ciclos do planeta.
Muitas vezes, ao ultrapassar certos limites, ocorrem reações ambientais que poderiam ser evitadas bastando para isso, apenas, a observação e o conhecimento. A força de reação da natureza não pode ser desprezada como vêm acontecendo de maneira progressiva. O poder da água, tanto como guardiã da vida na Terra, deve ser respeitado por isso, mas também deve ser entendida como capaz de tirar essas mesmas vidas. As nossas enchentes e o acidente de Fukushima, no Japão, são exemplares dessa força descomunal e destrutiva.
Temos o direito, mas também o dever de agir para garantir um ar bom para respirar, água pura para beber e alimentos saudáveis que colaborem com a nossa saúde. Para se alcançar esses objetivos, respeitar o meio ambiente é fundamental. Se no passado a meta era “vencer”, hoje é preciso buscar todos os caminhos para viver em harmonia com a natureza e dela extrair todos os benefícios resultantes dessa boa convivência.
As boas intenções
Recentemente, com as melhores intenções, não duvido disso, um grande banco anunciava: “O que a enchente destruiu sozinha, a gente pode reconstruir juntos” e colocou à disposição um número de conta para ajudar as pessoas e famílias prejudicadas pelas chuvas.
Essa é uma típica situação de desconhecimento das leis naturais, conforme descrevi acima. Em primeiro lugar a enchente não destruiu sozinha, o ser humano deu a sua contribuição determinante ao construir em locais inadequados, não permitindo a vazão das águas. Depois, ao falar em reconstruir, que significa fazer da mesma maneira, do mesmo jeito e no mesmo lugar serão cometidos os mesmos erros que levaram a tragédia.
Nesse caso, vale à pena rever valores e estratégias para obter os melhores resultados para o banco e para as pessoas.
*Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital, colaborador da Envolverde e professor de Gestão Ambiental na FAPPES.
Artigo publicado originalmente na coluna do autor no site da revista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-cidade-as-pessoas-e-as-chuvas-de-verao/?autor=599
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